Baleias e golfinhos são os animais mais carismáticos dos oceanos. Confiram o texto da oceanógrafa Renata Porcaro sobre a classificação desses incríveis animais:
Trabalho com coletas de dados oceanográficos e, quando estou embarcada, o encontro com golfinhos deixa o trabalho muito prazeroso! Na semana passada, durante as coletas, nos deparamos com dois grupos de golfinhos e uma baleia Minke. Nunca tinha visto uma baleia tão de perto, e ela me hipnotizou com sua natação e sua respiração.
Não sou especialista, mas assim como qualquer pessoa, sou fascinada por esses animais. Por isso resolvi pesquisar e escrever um pouco para vocês para apresentar os principais grupos de cetáceos, com muitas ilustrações e fotos nesta primeira parte da matéria. Na segunda parte vou abordar os problemas e desafios que algumas espécies enfrentam para sobreviver e os impactos que causamos sobre as populações.
Os cetáceos são mamíferos marinhos, ou seja, seus filhotes crescem dentro de uma placenta no interior do corpo da mãe e são alimentados com leite produzido por ela durante os primeiros meses de vida. A gestação varia de espécie para espécie. São divididos em dois grupos principais: Misticetos e Odontocetos.
– Misticetos: chamadas “baleias verdadeiras”. Capturam alimentos por meio de barbatanas, estruturas semelhantes a filtros que retém pequenos moluscos, crustáceos e peixes que vivem em cardumes. São de médio ou grande porte e podem pesar até 150 toneladas.
Quase todas as espécies migram para aguas frias e polares, que concentram grande quantidade de alimento, durante o verão e parte do outono, e no inverno reproduzem-se em águas tropicais. Há 13 espécies conhecidas neste grupo, dividas em 4 famílias:
1. Família Balaneidae (Baleias-Francas): primeiras caçadas pelo homem por ter hábito costeiro e grande quantidade de gordura.
2. Família Balaenopteridae (Baleia-jubarte, Baleia-de-bryde, Baleia-azul): possuem uma série de pregas ventrais na região da garganta, as quais se expandem para permitir que grandes quantidades de alimento sejam ingeridas.
3. Família Eschrichtidae (baleias-cinzentas): habitam apenas o Hemisfério Norte. Atualmente existem apenas no Oceano Pacífico, pois a população do Atlântico foi extinta pela caça, ainda no século XVIII.
4. Família Neobalaenidae (apenas baleia-franca-pigméia): habita mares temperados do Hemisfério Sul. São raras e também os menores misticetos do mundo, medindo no máximo 6 metros de comprimento.
– Odontocetos: capturam alimentos com os dentes, como golfinhos de água doce e salgada, orca e cachalote. São animais de pequeno ou médio porte, com exceção da cachalote que pode medir 18m e pesar mais de 60 toneladas. São mais de oitenta espécies subdivididas em seis grupos diferentes:
1. Família Delphinidae (golfinhos e orcas): encontrados em todos os oceanos do planeta e, em alguns casos, em grandes desembocaduras de rios.
2. Família Monodontidae (narvais e belugas): vivem apenas em regiões polares. O narval tem apenas um enorme dente de marfim, com 2,5 metros de comprimento, que se projeta para fora da boca e se localiza na parte frontal da cabeça. Atinge 6 metros de comprimento e pesa cerca de 2 toneladas, e é caçado por conta do marfim de suas presas.
3. Família Phocoenidae: pequenos cetáceos semelhantes aos golfinhos, mas não têm bico. A principal característica desses animais é a forma dos dentes, que são arredondados e achatados nas extremidades, distintos dos dentes cônicos dos golfinhos. Mais comuns no Hemisfério Norte, as vaquitas são pequenos golfinhos que vivem no norte do Golfo da Califórnia e são os cetáceos mais ameaçados do mundo.
4. Família Physeteridae (Cachalotes): animais de hábitos oceânicos, que realizam mergulhos profundos em busca de suas presas.
5. Superfamília Platanistoidea (botos de água doce): 5 espécies, a maioria de água doce, que vivem em rios da Ásia e da América do Sul. Estão entre os cetáceos mais ameaçados do planeta. Um platanistídeo famoso e conhecido na nossa cultura é o boto-cor-de-rosa da Amazônia.
6. Família Ziphiidae (baleias-bicudas): animais raros de águas profundas. Com dimensões apreciáveis (4 a 12 m para a baleia-bicuda-de-baird, 1 a 10 toneladas), podem também ser chamadas de baleias-bicudas, zífios, baleias-nariz-de-garrafa e baleias-de-bico, por possuírem um focinho pronunciado.
O crescimento populacional de baleias é utilizado por pesquisadores como indicador da saúde do ambiente marinho. Na maioria das espécies, o filhote permanece com a mãe cerca de dois anos. No caso das orcas, os filhotes ficam junto de suas mães durante toda a vida. Como as fêmeas geram um filhote por gestação e demoram entre dois e seis anos para ter outro, as populações desses animais não crescem lentamente e, por isso, são vulneráveis a impactos ambientais.
Os cetáceos, em geral, são animais de topo de cadeia e, portanto, não possuem muitos predadores naturais. O maior predador destes animais somos nós, humanos. E somos diretamente responsáveis pela extinção de algumas das espécies desse grupo.
No próximo artigo irei abordar os impactos que nós, humanos, e todo nosso progresso, causa sobre esses organismos. Existem problemas além da caça/pesca que afetam esses animais. Não percam!
Duvidas ou sugestões, escrevam para: renata.porcaro@gmail.com