Quase sempre sou questionada sobre as minhas escolhas de vida, que nem sempre foram compreendidas – sempre respeitadas, mas não entendidas. Tudo aconteceu tão rápido, mas… Talvez seja essa a melhor forma das coisas acontecerem: sem pensar e nem analisar demais. É quase como uma força invisível que rege e nos impulsiona em direção àquilo que não sabemos bem o que é, mas temos certeza que é o melhor que deve acontecer.
Ao encontrar velhos e novos amigos, não é difícil escutar: ‘Sinceramente, não sei o que estou fazendo da minha vida’, e outras coisas do gênero. Me pego pensando: mas como assim?! Acompanho a tudo e todos através das redes sociais, e claro, pela internet tudo sempre aparenta estar muito bem com todos. Não é raro ouvir deles que gostariam de ter a coragem que nós (eu e meu companheiro) tivemos, de mudar a nossa vida como mudamos.
Há não muito mais do que dois anos, trabalhei em uma renomada revista de surf como fotojornalista de moda, arte e cultura. Havia acabado de voltar para o Brasil de Cingapura, recém-formada e esse era um emprego dos sonhos. Realmente, foi um aprendizado incrível poder experienciar esse trabalho, mas a minha criatividade precisava funcionar dentro de um prazo, de segunda a sexta, das 9h às 18h. Todo artista sabe que isso é o mesmo que massacrar o seu poder de criação. Já vivia esta rotina há quase (apenas) 5 meses e este foi o tempo que ‘durei’ em minha tentativa de viver dentro dos padrões pré-estabelecidos para os jovens de hoje. Lembro o dia em que, por um momento, precisei fechar os olhos e respirar fundo, para me desligar de tudo que acontecia fora, para finalmente escutar a mim mesma. Como que, tão logo, já sentia a necessidade de sair correndo desse tal emprego dos sonhos?
Me cobrava a resposta para essa pergunta, mas estava diante de uma bifurcação na qual eu precisava optar entre me encaixar nos padrões ou de me entregar àquilo que eu não sabia bem o que era, mas que eu sabia que era o certo. E fui, escolhi a segunda opção. A de mergulhar no universo desconhecido que me esperava. Foi um belo ‘larguei tudo, e agora?!’. Não larguei um emprego para procurar outro. Larguei o emprego, larguei um caminho que estava trilhando, sem plano A, nem B e nem C…
Sempre sabemos o que não queremos. Eu sabia que não queria viver em São Paulo, nem passar horas do dia em um escritório e depois no trânsito. Mas é muito mais difícil saber o que queremos. Você sabe o que você quer, de verdade? Foi como me atirar do abismo; assustador e incrível ao mesmo tempo. Eu também não sabia o que eu queria afinal, mas aprendi a descobrir. No mundo de hoje, somos ensinados a ter controle de tudo: ‘Siga este abc e terás a felicidade.’ Mas, que felicidade é esta que nem sempre chega? O que estamos buscando neste caminho ‘pronto’ que nos é dado, no qual sabemos tudo que vai acontecer em cada etapa dele?
Algo curioso aconteceu. Ao acordar em meu primeiro dia de ‘desemprego dos sonhos’, pude me perguntar: o que quero fazer hoje? Foi então que sentei para desenhar. Hoje, sou também ilustradora, e confesso que é o que faz meu coração vibrar – deste trabalho eu nunca pediria as contas. Entendi que precisamos abdicar de velhos hábitos e rotinas, para dar espaço a esta pergunta e, assim, deixar o novo e desconhecido entrar. E nos levar pela vida. Sem saber ao certo ‘qual vai ser’, mas mora aí a graça da coisa.
Há exatamente dois anos, eu e meu companheiro escolhemos sair da cidade para viver no interior, integrados à Natureza, cultivando o bem estar e qualidade de vida através do yoga, meditação, permacultura e alimentação natural, além de também trabalharmos em nossa área de arte/design como autônomos. A batalha é tão grande quanto, a de ser autônomo. Mas poder viver essa liberdade torna tudo muito mais gratificante.
Escolher viver a liberdade não significa necessariamente abdicar de um emprego, nem da cidade grande e do agito. Significa, na verdade, que se você não se sente realizado no caminho que está, você deve parar agora. Se é virar a sua vida de ponta cabeça, mudar tudo da água pro vinho, viva isso. Com direito a muito frio na barriga, mas muito mais coragem. O segredo está em se entregar ao desconhecido e confiar. Confiar no seu coração, no Universo, na sua intuição. Confie.
Não existe uma resposta certa ou errada, existe a resposta que te deixa feliz e ela está dentro de você.
Por Paula Sgarbi