A morte da turista paulista Bruna Giobbi, na praia de Boa Viagem, trouxe novamente à tona a pergunta: porque tantos incidentes de tubarão ocorrem nessa região?
A região de Recife é a que mais sofre com ataques de tubarão na América do Sul. Muitos fatores influenciam para que os ataques de tubarões ocorram, e a maioria deles está ligada à urbanização. As obras de construção do porto de Suape foram iniciadas na década de 80 e o funcionamento de forma mais intensa ocorreu a partir da década de 90. Antes disso, nunca havia sido registrado sequer um incidente com tubarões na área. Em contrapartida, a partir dos anos 90 foram cerca 40 incidentes e 13 mortes.
A construção do porto causou mudanças significativas no ambiente e nos ecossistemas. As comunidades planctônicas, base de toda cadeia trófica marinha, tiveram quedas quantitativas em termos de abundância e diversidade, causadas principalmente pelo aumento da matéria em suspensão. Com a diminuição do fito e zooplâncton, a quantidade de indivíduos que se alimentam de plâncton diminuiu e, consequentemente, os tubarões perderam seu alimento. Desta forma, as décadas de 80 e 90 representaram um período no qual os tubarões da região estavam à procura de alimento, mesmo que carne humana não esteja naturalmente em seu cardápio.
A maioria dos ataques ocorre quando o vento sopra forte de sul e sudeste. Nessas condições, as correntes do sul para o norte tomam força e influenciam na natação dos tubarões, que se aproximam das praias de Recife atraídos também pelos restos de alimentos e dejetos jogados no mar pelas embarcações no porto de Suape.
As praias recifenses também possuem uma característica geográfica que influencia na quantidade de tubarões presentes. Um banco de areia de profundidade entre 1 e 3 metros está presente ao longo da costa, a uma distância de aproximadamente mil metros da praia. Entre o banco de areia e a praia, há um canal mais profundo de fundo arenoso, local ideal para raias, que são presas naturais dos tubarões.
O aumento do número de banhistas e surfistas é outro fator que aumentou a taxa de acidentes. Os surfistas, por permanecerem mais tempo dentro da água, sempre foram as vítimas mais constantes. Hoje o surf é proibido na praia de Boa Viagem. Em praias como a de Boa Viagem, mais famosa da cidade, turistas são alertados por cartazes que desaconselham a entrada na água para evitar encontros com os animais, porém nem sempre as orientações são seguidas pelos turistas.
Outras considerações sobre a área incluem a pesca de arrasto de camarão, a mais danosa ao meio marinho, que para cada quilo de camarão capturado, descarta 9 quilos de outros animais mortos nas águas de Boa Viagem.
O histórico de acidentes com tubarões são, na maior parte com duas espécies: o cabeça-chata e o tubarão-tigre:
O cabeça-chata (Carcharhinus leucas) tem como características principais o nariz largo e achatado, olhos pequenos, barriga branca e corpo acinzentado. Pode atingir 3,5m de comprimento total e as fêmeas costumam ser maiores que os machos. É uma espécie adaptada à agua doce e já foi encontrado no rio Amazonas a 4km da costa. A destruição de mangues para a construção do porto fez com que as fêmeas que usavam o local em parte do ciclo reprodutivo migrassem para o estuário do rio Jaboatão, ao norte, o qual desemboca exatamente nas praias de Recife.
O tubarão-tigre (Galeocerdo cuvier) é uma das espécies mais temidas em função da violência de seu ataque. Ele come uma grande variedade de animais (tartarugas, raias, moluscos), inclusive membros da mesma espécie. Tem esse nome em função das manchas pretas no corpo e pode alcançar até 6 metros de comprimento.
Os mais variados objetos já foram encontrados no estômago de indivíduos destas espécies, mas a parcela de culpa dos humanos é muito maior que o apetite do animal, afinal, utilizamos há séculos os oceanos como uma grande lata de lixo.
Agora, pasmem!
No ano de 2000, de acordo com o Plano de Monitoramento Ambiental de Recursos Hídricos, o MATADOURO de Jaboatão descartou seus efluentes não tratados no rio, a um volume de 345 m³/dia, incluindo sangue, vísceras e água. Não consigo imaginar nada que atraia mais tubarões do que sangue!
E aí, a culpa é de quem?
FONTES:
ondaazul.com.br
mundoestranho.abril.com.br
vidaeestilo.terra.com.br
Por: Renata Porcaro