“Ilhas de plástico do Pacífico”.

A cada dia que passa o oceano está mais poluído. Existem regiões de acúmulo de plástico que vem preocupando parte da comunidade científica. Estudos estão sendo desenvolvidos na tentativa de conhecer e solicionar este problema. Conheça as Ilhas de Plástico:

Por Renata Porcaro

O aumento da população mundial, do desenvolvimento tecnológico e de consumo é inevitável. Todo progresso gera resíduos, isso é fato. O oceano é historicamente utilizado como uma grande lixeira pela humanidade. A mais surpreendente e visível prova disso não está na zona costeira nem nas praias poluídas. Está no meio do oceano Pacífico Norte, entre a Califórnia e o Havaí em uma região chamada de “O grande lixão do Pacífico” ou “A Ilha de Plástico do Pacífico”.

Descoberta em 1997 por Charles Moore, esse local acumula grande quantidade de lixo, em um processo que combina a ação antrópica*, e natural. Nós humanos nos encarregamos de produzir cada vez mais resíduos plásticos e destiná-los em locais inapropriados. Parte dos resíduos plásticos afunda, mas toneladas de lixo são acumuladas no centro daquele oceano, caracterizada pelo giro circular no sentido horário (figura 1) e pela convergência de quatro correntes oceânicas: Corrente do Pacífico Norte ao norte, Corrente da Califórnia a leste, Corrente Equatorial Norte ao sul, e Corrente Kuroshio a oeste.

Existem pelo menos quatro outras zonas de deposição de lixo localizadas no Pacífico Sul, Atlântico Norte, Atlântico Sul e Oceano Índico (figura 1), com processos de acúmulo de lixo similares aos encontrados no Pacífico Norte. Como o lixo acumulado nessas áreas é composto predominantemente por material plástico, as áreas ocupadas não podem ser mensuradas com exatidão através de imagens de satélite devido à sua transparência.

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Figura 1. Existem vórtices oceânicos com acúmulo de lixo em vários lugares dos oceanos, porém nenhum tem a concentração de plástico encontrada no “Grande Lixão do Pacífico”. Fonte: 5gyres.org.

Poucos objetos encontrados podem ser identificados, pois a maioria foi quebrada em vários fragmentos devido à ação da luz solar. Esse processo de quebra é contínuo e mantem o plástico no oceano sob a forma de micropartículas de polímeros plásticos. Partículas de diferentes tamanhos são ingeridas pela fauna marinha, disseminando e potencializando a contaminação por pesticidas e dioxinas presentes no plástico através de toda cadeia alimentar. Este processo é conhecido como biomagnificação, no qual a concentração do poluente aumenta conforme o nível trófico ocupado. Portanto, os mais afetados pelos contaminantes são os animais maiores, que ocupam o topo da cadeia alimentar.

Além da contaminação química, diversos organismos ficam com o estômago cheio de plástico, o que pode levar à morte por inanição. Em um atol utilizado por albatrozes para nidificação*, localizado no meio do Oceano Pacífico e com o continente mais próximo a cerca de 3000 km de distância, o fotógrafo americano Chris Jordan retratou no projeto MIDWAY o sofrimento desses animais e registrou a situação de seus estômagos cheios de plástico (figura 2). Vale a pena assistir ao clipe do projeto (disponível no site www.midwayfilm.com) para refletir um pouco sobre nossos hábitos de consumo.

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Figura 2. Albatroz morto por ingestão de plástico no atol de Midway. Foto: Chris Jordan

As áreas de acúmulo de lixo, por serem formadas em regiões do oceano pobres em nutrientes, estão funcionando como um substrato artificial e concentrando vida marinha, alterando as características naturais do ambiente.

Em um estudo desenvolvido por pesquisadores do “Scripps Institution of Oceanography” através do projeto SEAPLEX (Scripps Environmental Accumulation of Plastic Expedition), foi observado um aumento na densidade de ovos dos insetos da espécie Halobates sericeus, que vivem na superfície da água e estão aproveitando a parte flutuante do lixo para desovar. Os ovos antes eram depositados em restritas superfícies de fragmentos vegetais flutuantes. O mesmo comportamento foi observado em outra espécie do gênero Halobates por pesquisadores Brasileiros no Atlântico Sul.

Pesquisadores de todo mundo investigam o real impacto desses fenômenos de acúmulo de lixo. Há também um projeto colaborativo chamado “The 5 Gyres Project” (5gyres.org), da Fundação Algalita de Pesquisa marinha, que conta com a participação de navegadores do mundo todo para relatos e informações sobre o lixo encontrado nos oceanos.

Apesar do esforço da comunidade científica em desvendar os mistérios e buscar soluções para esse problema, o consumo, a produção de objetos plásticos e seus descartes inapropriados continuam crescendo desenfreadamente. Devemos lembrar de que, em se tratando do planeta, os termos “jogar fora” ou “jogar no lixo” simplesmente não existem!

Os materiais inúteis, o lixo e o descarte, estão sendo depositados no mesmo solo em que plantamos nossos vegetais e no mesmo oceano do qual retiramos os peixes dos quais nos alimentamos. Mas cada um pode fazer a sua parte, repensando seus hábitos e moderando seu consumo, e desta forma, contribuir como mais uma gota para ajudar o oceano nessa batalha contra as Ilhas de Plástico.

Agradecimento: Arnaldo Sousa pela revisão e sugestões.

* Glossário

Antrópico: resulta da atuação humana

Nidificação: Construção de ninhos


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