Todo surfista gosta de observar o mar.
O conhecimento dos processos que acontecem no mar podem nos auxiliar nos momentos de surf, por isso quero mostrar um pouco sobre as correntes de retorno.
As correntes de retorno, ou rip currents, são definidas como o refluxo do volume de água que retorna para o mar em virtude da força gravitacional e podem alcançar velocidade superior a 3m/s. Para se ter ideia, esta velocidade é muito superior ao recorde olímpico de Cesar Cielo, que nadou a aproximadamente 2,3m/s!
As correntes deste tipo ocorrem em todos os tipos de praia, variando com a topografia do fundo, a altura e período das ondas, a proximidade da arrebentação com a linha de costa, a intensidade de correntes laterais e ainda, a existência de lajes de pedra ou coral próximos à linha de arrebentação. Algumas correntes de retorno dissipam muito próximo à praia, enquanto outras podem continuar por centenas de metros.
Algumas características que podem auxiliar na identificação das rip currents são:
– junção de duas ondas provindas de sentidos opostos;
– formação de ondas mais cavadas durante a maré baixa;
– ocupação de uma faixa maior de areia, devido ao maior volume de água, provocando uma sinuosidade ao longo da praia (boca da vala);
– escavações na areia, formando cúspides praiais em frente às valas.
É importante notar que as ondas não quebram sobre o canal submerso formado por esse fenômeno, portanto as áreas tem falso aspecto de calmaria (figura 1), maior profundidade, coloração da água mais escura (figura 2) e geralmente são localizadas entre dois bancos de areia (onde as ondas quebram com maior frequência e tamanho).
Três partes principais podem ser identificadas nas correntes de retorno (figura 3):
– Boca: início da corrente de retorno ou valas. É alimentada pelas correntes laterais;
– Pescoço: parte central da corrente;
– Cabeça: onde a corrente se dissipa, normalmente atrás da arrebentação.
As correntes de retorno podem ser classificadas da seguinte forma:
– Fixas: Localizadas em cantos de pedra como costões, molhes e piers, permanecem na mesma área por vários meses ou anos, pois fundo e condições físicas nesses locais sofrem poucas mudanças. São formadas pela convergência de correntes laterais para o canto de pedra ou pela ocorrência de grandes ondas que elevam rapidamente o nível de água.
– Permanentes: ocorrem em determinados pontos das praias rasas, intermediárias e de tombo. Uma vez estabelecidas, podem durar vários dias ou meses, dependendo da movimentação de areia. São formadas por sulcos profundos escavados na areia, condições favoráveis para o retorno das águas no sentido do mar.
– Temporárias: ocorrem em determinados pontos das praias rasas, intermediárias e de tombo. Apresentam sulcos pouco profundos, sem estabilidade e duram apenas algumas horas. Este tempo irá depender da movimentação de areia pelas correntes laterais. As ondas que se rompem colocam a areia em suspensão, facilitando o transporte dos grãos e desaparecimento dos sulcos.
– Instantâneas: ocorrem logo após grandes séries de ondas se aproximarem da praia, trazendo um grande volume de massa líquida, formando um refluxo de água que retorna para o oceano. Não existe a formação de sulcos no fundo, desaparecendo rapidamente. São bastante comuns nas praias de tombo devido à inclinação, e intermediárias em virtude da proximidade das ondas em relação à praia.
Para os banhistas, as correntes de retorno representam um risco real, sendo responsáveis pela grande maioria dos afogamentos registrados em praias. Em praias mais movimentadas e urbanizadas, os locais das correntes de retorno são sinalizados pelos guarda-vidas com bandeiras vermelhas ou placas. A figura 4, desenvolvida pelo corpo de bombeiros militar do estado de Santa Catarina, ilustra a corrente de retorno, suas áreas de escape e orienta os banhistas como proceder caso entre em um local de risco.
Para nós, surfistas, as correntes de retorno são utilizadas como facilitadores para passar a arrebentação. Saber identificá-las pode realmente nos ajudar a chegar ou voltar para o outside. Além disso, é importante conhecê-las para orientar ou até mesmo auxiliar no resgate de banhistas.
Espero que tenham gostado!
Dúvidas? Sugestões?
Me escrevam: renata.porcaro@gmail.com
Fontes:
ripcurrents.noaa.gov
ripcurrentsymposium.com
cbmerj.rj.gov.br
surfebrasil.com.br
Por: Renata Porcaro