A curadoria do portal cabecafeita.com conduziu uma entrevista exclusiva para o Ibrasurf com a artista Fernanda O’Connell. Residente na Austrália, os temas de suas obras refletem o estilo de vida de Fernanda, cercada de muito surf e paisagens alucinantes.
Acompanhem:
Como você teve seu primeiro contato com a arte? Como foi seu processo de descoberta pessoal?
Desde pequena gostei de desenhar, principalmente o mar e as ondas. Sempre fui fascinada com o oceano, e sonhava morar perto do mar.
Acho que uma característica forte da minha personalidade é a criatividade. Na arte, pude me expressar melhor e percebi isto desde cedo, na época da escola.
Houve algum mestre envolvido no processo inicial?
Inicialmente não. Na verdade, depois que comecei a pintar com uma profissional aqui na Austrália e desenvolver meu próprio estilo, comecei a procurar inspiração em diferentes artistas.
Sempre fui uma pessoa muito individualista, sinto necessidade de me expressar de um modo diferente e com isso, procuro não me influenciar por artistas especializados no meio
“surf art”.
Hoje em dia, a composição da paleta de cores pode vir de uma coleção de algum estilista de moda, de um cenário de um filme, de alguma obra de um mestre ou apenas do meu estado de espírito.
Qual tipo de arte lhe atrai?
É difícil dizer e selecionar somente um estilo. Mas aprecio muito o Renascentismo, Impressionismo e Pós Impressionismo.
Engraçado, dizendo assim, acho que fica fácil descrever, aprecio muito a técnica.
Curioso também que apesar de me considerar como uma pessoa inovativa, aprecio muito na arte, os mestres de um passado bem distante.
Quais fontes de inspiração para os seus trabalhos?
Pelo incrível que pareça, em relação à composição de cores, tiro inspiração através das tendências da moda. Sempre fui muito ligada à moda!
E em relação aos ângulos da onda e as paisagens, definitivamente vem de quando eu estou surfando!
Como foi o processo de mudança do Brasil para a Austrália, principalmente no lado da arte?
Vim pra Austrália primeiramente para aprender inglês e pegar onda. Meu sonho era surfar Kirra Point (que rolava antes dos bancos se tornarem clássicos) e Burleigh Heads. O problema era que eu não tinha nenhuma experiência nesses tipos de onda. Graças ao meu marido e nossas viagens pelo mundo surfando ondas cavadas, melhorei muito!
Como estou na Austrália desde que eu tinha 19 anos, tenho desenvolvido muito minha personalidade e meu olhar artístico por aqui, conectando com a história local, a arte aborígene e mestres Australianos da arte.
Como funciona o movimento artístico na Austrália? Fale um pouco da cena atual que você absorve por aí…
Austrália é um país muito jovem. Desde que cheguei aqui, há 17 anos, o país em geral evoluiu muito em todas as áreas: Arte, culinária, cinema, arquitetura, design… Sou muito interessada em todas essas áreas e é muito interessante participar do desenvolvimento da cultura australiana como um todo.
Acabei de voltar pra morar em Sydney, depois de 10 anos em Ulladulla, e como estou aqui na cidade existe muita oportunidade de visitar as galerias, exposições, shows de música (que eu adoro!!) e assistir muitos filmes.
Fale um pouco do seu processo artístico? Há algum ritual, meditação ou preparação para desenvolver seus quadros?
Quando começo uma nova pintura, a ideia surge muito rápido na minha mente. Começo com um estudo da composição em desenho, às vezes faço também um gráfico das cores. Daí trabalho com pincéis enormes (no começo). Subsequentemente, os pincéis vão ficando cada vez menores e parece que embarco em uma viagem que às vezes não me lembro direito do processo que rolou…
Como vê o desenvolvimento da Surf Art no mundo?
Nessa era da internet fica muito fácil para que qualquer movimento ou manifesto seja espalhado pelo mundo com muita facilidade. Acredito que existe espaço, e esse é o meu anseio como profissional: que bons trabalhos sejam expostos em galerias de renome, e que o trabalho de muitos “surf artistas” sejam considerados pela sua beleza e técnica na composição, ajudando o surf a quebrar mais os tabus que existem ao redor do esporte.
E no Brasil?
Nós, brasileiros em gênero, somos um povo muito caloroso, cheios de energia e paixão… Acredito que sites como Cabeça Feita e o Festival Alma Surf estão ajudando a destacar mais os artistas e o lifestyle surf em geral.
No final das contas, o público precisa investir nas artes e o artista precisa ser considerado como um profissional e ser pago devidamente por isso.
Os temas de suas obras envolvem a onda em si e paisagem de praias. Qual o principal objetivo da sua arte referente ao espectador/observador?
O objetivo do meu trabalho, principalmente o fato de omitir total a forma humana, é que o expectador se desligue do dia a dia e se imagine, surfando sozinho, num mar maravilhoso onde Deus presenteia os surfistas com um show espetacular de cores.
O que você acha de exposições de arte? Qual a contribuição e experiência que exposições trazem para o artista?
Com toda a certeza, exposições de artes ajudam o artista a ser promovido. São essenciais para que o artista estabeleça compromisso, determinação e fortaleça sua visão.
Cite artistas que você admira.
O australiano Ben Quilty e o já falecido Brett Whiteley. Outro australiano que também admiro é Nicholas Harding e seus retratos a óleo alla prima.
Chuck Close, artista especializado em retratos mas dessa vez de um meio chamado de foto realismo. Tem ainda Amadeo Modigliani, o inglês David Hockney, o grafiteiro Bansky, Paul Gauguin, Paul Cezanne, Henri Rousseau, Henri Matisse, Toulouse-Lautrec, Klimt, Otto Dix, Leonardo da Vinci… Todos esses por motivos muito mais do que só pelos seus trabalhos.
Quais são seus projetos para o ano?
Tenho desenhado muito e divulgado pouco meu trabalho, pois me envolvi em um projeto grande de arquitetura de interiores e styling de moda esse ano. Por isso, meus trabalhos se concentraram em desenhos de móveis e marcenaria.
Eu também acabei de abrir uma loja em parceria com uma amiga, concentra somente em moda. Então, nos meus dias em casa é que vou produzir meu trabalho artístico.
Durante esse ano, vou colaborar com um escritor em um livro que retrata a historia de uma família de refugiados procurando asilo em outro país, sua trajetória pelo mar buscando uma vida melhor. É uma historia pequena, um livro ilustrado para um target de crianças a cima dos 8 anos. Então vai ser o mais light possível. Também acabei de traduzir um filme australiano de bodyboard para um amigo, estrelando o atleta brasileiro Magno Passos.
Quero incorporar pessoas nos meus trabalhos e vou continuar explorando folhas de ouro e prata, que são matérias que usei em todos os meus trabalhos esse último ano.
Qual seria sua dica para artistas que estão começando?
Acredite em si mesmo e acima de tudo. Como artista, seja sincero e autêntico no seu trabalho.
O que faz a cabeça de Fernanda O`Connell?
Surfar com meu marido, meu filho e minha filhinha pequena que está começando agora.
Passar o dia inteiro na praia pegando onda com as pessoas queridas, realmente é minha maior fonte de alegria!
Gosto de ser criativa, seja com projetos de interiores, pintando, trabalhando com moda, desenhando móveis… Gosto de inventar! Pois assim aprendemos coisas novas.
Tenho muitos prazeres nessa vida, mas juntar a família que está no Brasil e cantar com meus primos, é algo que não faço à uns 3 anos e sinto muita alegria!
Família, amigos, arte, música, filmes, design de interiores, moda e é claro, uma boa session de surf…that’s what I am all about!
Fotos: Aquivo pessoal da Fernanda O’Connell