“Crie seu caminho. Crie seus próprios sonhos. Crie seu destino. Ya’ahowu.”

Ibrasurf entrevista Paulo Sciamarelli, o Paulé, também conhecido por Mr. Polo em águas indonesianas

O lugar é longe, 36 horas de avião e 14 horas de barco em média, mas se é para pegar o tubo da sua vida, vale a pena!

Corais coloridos, milhares de coqueiros, água azul, natureza por todos os lados e muita, muuuita onda. Direitas, esquerdas, fundos de areia, coral… Um cardápio completo que não fica à desejar. O lugar é Pasti – Indonésia. Uma ilha no meio do nada, ou melhor, no meio de muita onda onde você pode surfar mais de 7 horas por dia um mar perfeito e sem crowd.

Para falar um pouco mais sobre esse paraíso, entrevistamos Paulo Roberto Sciamarelli, o Paulé ou Mr. Polo, como é mais conhecido na ilha no meio do Oceano Índico. O brasileiro que trocou o Brasil pela Indonésia, tornando assim seu sonho realidade.

Foto: Echa Wuisan
 

IBRASURF – Você sempre pensou em deixar o Brasil… Ir para Indonésia… Montar o Surfing Village… Como isso foi se desenvolvendo?

MR. POLO – Acredito ser meio cigano desde pequeno. Nasci em Porto Alegre e com 1 mês de vida já estava em São Paulo. Quando criança, adorava o cheiro de maresia quando íamos em família para praia.  Ainda adolescente, fui morar no Rio de Janeiro e depois de 6 meses lá, me mudei para o Ceará. Junto com meu irmāo e alguns amigos de Sampa, moramos em Fortaleza por quase um ano. Surfávamos e vendíamos sanduíche natural na praia para nos manter. Foram anos de muitas risadas e meu 1º contato real com ondas de fundo de coral. Depois da experiência de morar no Nordeste, voltei a Sāo Paulo. Decidi então fazer faculdade por livre e espontânea pressão de meu pai.  Estudava, trabalhava e surfava nos finais de semanas, feriados ou em algum esporádico bate-volta no meio de semana.

Quatro anos voaram. Durante esse período, ainda tive a oportunidade de surfar no Peru, México, Costa Rica…. Terminei a faculdade e entreguei orgulhoso meu diploma ao meu querido pai. Com a benção de minha mãe e também com sua dor de me ver partir, me despedi. Australia, here i go! Como a Austrália  fica basicamente ao lado da Indonésia, (que sempre foi meu sonho de ondas perfeitas), acabei visitando o arquipélago pela primeira vez em 1993. Fui a Bali. Surfei Uluwatu quando ainda não existiam estradas de acesso à onda, hotéis e muito menos o crowd circense dos dias de hoje.

Ali as esquerdas rolavam quilometricamente perfeitas, poucos surfistas na água e apenas alguns  “warungs” que serviam arroz frito e um teto pra se proteger do sol ou chuva. Armei minha rede ali e fui ficando. Fui a Sumbawa também e naquela época o crowd já era uma realidade. Fiquei em Bali por um mês antes de voltar pra Austrália. Não acreditava ter realizado meu maior sonho ate então: Surfar na Indonésia.  Já de volta a Austrália , recomecei minha vida. Morava em Margaret River durante o verão. Surfava, cortava lenha, lavava pratos e colhia uvas para sustentar meu vicio de pegar onda.  O resto do ano morava numa caverna no morro de Red Bluff, situado no noroeste australiano, onde existem um dos  melhores tubos de esquerda do planeta.

Foram quase 4 anos de muito surf e trabalho. Mas não dava mais para ficar morando e trabalhando ilegalmente na terra dos cangurus. Voltei pra São Paulo no final de 97. Fui morar em Maresias. Na praia a grana era curta, as ondas medianas e os sonhos gigantes. Mas foi lá, num dia de poucas ondas e conversando com amigos na areia do Canto do Moreira, que a ideia de montar um surf camp floresceu. Precisava sair do Brasil de novo, achar um lugar onde poderia surfar e  ao mesmo tempo ganhar dinheiro suficiente para morar na Indonésia.  Depois de muito pesquisar, decidi que o Hawaii seria o caminho. Foram ainda mais quatro longos anos de muito trabalho no Brasil para conseguir dinheiro suficiente para um passaporte novo, visto e passagem, além de um dinheiro para me manter no Hawaii. Cheguei a Oahu no ano de 2001. Pipeline, Sunset, Waimea… as ondas estavam todas ali, na frente dos meus olhos. Mas longe do meu coração.  Não aguentei sequer 2 dias naquele crowd absurdo. Fui então para o North Shore do Kauai e lá me apaixonei pelo estilo de vida. Foram mais quatro anos de muito surf, trabalho e economia de cada dólar. Nos dias de chuva e sem ondas, me dedicava ao estudo do arquipélago indonesiano. Cada ilha, cada praia, cada possibilidade de ondas inexploradas eram registradas e arquivadas numa pequena agenda de bolso. Percebi que no Kauai, estava vivendo o sonho de qualquer surfista, para assim, realizar um sonho ainda maior.  A possibilidade de juntar dinheiro suficiente para voltar a Indonésia, e achar o lugar que habitava meus sonhos, era meu maior consolo na hora de varrer o restaurante onde trabalhava ou encarar o cheiro de tinta fresca na hora de pintar as casas. Estava valendo qualquer trabalho para viabilizar a procura da onda perfeita, da ilha mágica….. e transformar meu sonho em realidade.

Foto: Echa Wuisan
 

IBRASURF – Porque o lugar escolhido foi Pasti? Como você teve o feeling de decidir que Pasti era “o lugar”?

MR. POLO – Pasti não é uma ilha.  Pasti é apenas o nome que batizamos a principal onda, das três que temos aqui na frente do SV. O nome verdadeiro do lugar, preferimos preservar por motivos óbvios. Achar essa onda aonde o Surfing Village está situado, não foi fácil. Tão pouco rápido. A princípio a ilha escolhida para iniciar o “search” seria a ilha de Simeulue, que fica no extremo Oeste da Indonésia. Cheguei na Indonésia, por Bali, no final de 2004 , na mesma época que aconteceu o terremoto,  que matou centenas de milhares de pessoas em Banda Aceh. O epicentro deste terremoto aconteceu precisamente ao lado de Simeulue e devido a esse acontecimento trágico, o plano original foi modificado.  A procura pela ONDA perfeita foi iniciada então pelo extremo Leste da Indonésia.  Rote, Raijua, Sawu, Sumba, Sumbawa, Lombok, Bali, Java, Sul de Sumatra….. entre tantas outras foram surfadas e exploradas por mim.  Fui a quase todos os cantos aonde haveria possibilidades de ondas sem crowd. A real, é que em praticamente todos os lugares que cheguei, haviam ondas de qualidade. Mas conciliar a onda perfeita, o terreno em frente a ela e a aceitação da comunidade para montar um surf camp, eram equações difíceis de solucionar. Ainda na ilha de Sumba, enquanto surfava uma esquerda potente, encontrei Glen, um surfista australiano que também buscava uma onda paradisíaca para surfar. Através dele me veio a informação de um arquipélago “perdido” entre Mentawai e Nias.  Já havia estudado esse arquipélago, ainda no Hawaii, por um bom tempo. Mas havia deletado a ideia de ir até lá, pela  proximidade com as ilhas de Mentawai. Acreditava eu, que este amontoado de pequenas ilhas já estaria “crowdeada” também. Engano meu. As informações que me chegavam através de meu amigo era a de que o crowd não existia e de que nada havia por lá além das ondas solitárias. A ideia de ir até essas ilhas ficou arquivada enquanto continuava no search. Foi quase um ano de procura, até finalmente chegar no Norte de Sumatra. Uma vez no arquipélago , o problema agora, seria achar a melhor onda.  São exatas 101 ilhas no total.  Depois de surfar e explorar quase todas as ondas da região, partimos, eu e Glen, para o extremo mais ao Sul do arquipélago. O mais afastado e de acesso mais complicado. Paraíso a vista. Ao chegar, coqueiros a perder de vista, ondas perfeitas quebrando numa baia idílica, água cristalina, e nenhum surfista. Não foi difícil decidir que ali seria o lugar ideal. Faltava agora encontrar o terreno. Mas a conspiração divina se fez presente e o dono do pedaço de terra bem em frente à onda de Pasti, concordou em alugá-lo. O “kisort” começava a nascer.

Foto: Echa Wuisan
 

IBRASURF – Em termos culturais, quais as maiores diferenças entre Brasil X Indonésia?

MR. POLO – Diferenças e similaridades existem em abundância. Talvez as diferenças mais expoentes são as de que, na Indonésia, a população tem na religião muçulmana o alicerce de sua cultura. São pessoas pacíficas. A criminalidade existe como em qualquer outro lugar do mundo, mas em comparação com o Brasil, a Indonésia é muito mais tranquila . Dificilmente algum indonesiano irá apontar uma arma na sua cabeça e roubá-lo. Sequestro relâmpago, bala perdida, guerra do tráfico de drogas e problemas sociais dessa magnitude, não são de muita ou quase nenhuma relevância por aqui. Mas como o Brasil, a Indonésia é um país de terceiro mundo. Deixar algum pertence de valor desatendido, é certeza de furto. E a corrupção é também um fator predominante.

Foto: Echa Wuisan
 

IBRASURF – Quais os riscos que existem em morar na Ilha?

MR. POLO – Estar vivo é um risco. Mas numa ilha lidamos com riscos diferentes e que requerem cuidados específicos. Dormir sempre com mosquiteiros e usar repelente duas vezes ao dia, para evitar qualquer tipo de contato com o mosquito da malária, é fundamental. A situação da malária nos arredores do SV esta praticamente solucionada. Limpamos todo o terreno e o mesmo foi gramado. Todas as construções foram projetadas num nível mais elevado, dificultando o acesso dos mosquitos. Contrair malária aqui seria mais um tremendo “azar” do destino do que propriamente um risco eminente.

Os fundos de corais são geralmente rasos e afiados. Usar botinha é recomendável. A possibilidade de um terremoto com a consequência de um tsunami é basicamente remota, considerando nosso posicionamento geográfico.  De qualquer maneira temos uma “via” de emergência bem atrás do restaurante que da acesso ao morro em caso de tsunami.  Os riscos existem sim e não existe uma maneira de evitar o eminente. A morte é, e sempre será, o maior de todos os riscos.  Mas ninguém morre na véspera…  a não ser o peru. O dia de partirmos desse mundo é garantido e inevitável. Você pode se prevenir de diversas maneiras e minimizar os riscos de ficar doente ou o de se machucar. Mas se sua hora chegar, até mesmo um coco caindo na cabeça é sinal que seu tempo se esgotou nessa vida.

Foto: Echa Wuisan
 

IBRASURF – Para a galera que pretende ir para a Indonésia, surfando no Brasil, quais os cuidados?

MR. POLO – Para os que pretendem vir pela primeira vez a Indonésia:

. Trazer botinhas para andar no coral.

. Um “leash” ou dois de reserva. De preferência mais grosso do que o usado no dia-a-dia no Brasil .

. Passaporte com um MÍNIMO de 6 (seis) meses de validade ou você terá problemas para entrar no país.

. Em hipótese nenhuma, considere a ideia em trazer qualquer tipo de droga ilícita. Dá cadeia e até pena de morte.

. Não tenha pressa e procure manter a calma. A pressa neste país só lhe trará olhares de espanto e em nada ajudará na solução de qualquer problema.

. Não cumprimente, toque, receba ou ofereça NADA com a mão esquerda. Nem mesmo acene com ela. Procure manter sua mão esquerda fora de equação na Indonésia. Para eles e para a maioria das pessoas dos países asiáticos, a mão esquerda é usada somente para limpeza corporal. Incluindo na higiene após usar o vaso sanitário.

IBRASURF – Qual o quiver adequado pra levar? 

MR. POLO – Essa é uma questão basicamente pessoal e vai depender do peso e altura do surfista, o tipo de onda a ser surfada, bem como a experiência do surfista. Mas aconselho sempre, trazer uma prancha um pouco maior do que a usada no Brasil e com um pouco mais de flutuação. Se possível, que seja de laminação bem forte. Não se preocupe se ela ficar um pouco mais pesada. As ondas aqui são rápidas e potentes. Um peso “extra” para surfar ondas de reef, auxilia mais do que atrapalha, em minha opinião.

Foto: Echa Wuisan
 

IBRASURF – Você é um cara que vive do surf, e todo surfista ou mesmo quem curte e se apaixona pelo lifestyle, adoraria ter essa oportunidade de trabalhar com o que mais gosta. Qual o conselho que você daria para essas pessoas?

MR. POLO – Essa é uma questão que abrange a todos e não só o surfista. Trabalhar com o que se gosta é algo de extrema significância para que as pessoas se sintam realizadas na vida. Não importa se você seja um surfista profissional, amador, guerreiro de final de semana, taxista, cobrador, advogado ou lixeiro. No meu entendimento, o importante é antes de tudo, gostar do seu trabalho mais do que trabalhar no que se gosta. A vida é um processo. Não se atinge nenhum objetivo de um dia para o outro. Você não pode chegar a lugar nenhum de maneira instantânea. A vida é uma suceder de oportunidades e precisamos aprender a reconhecer o que nos serve e o que não nos ajusta. Minha experiência é que, se a pessoa for grata, não importa o que aconteça, não desistir de seus sonhos e der o melhor de si, os frutos amadurecerão. Os sonhos deixam de ser concretizados a partir do momento que desistimos deles. É possível chegar ao seu próprio “paraíso”. Mesmo que tenha que passar várias vezes pelo “inferno”.  E acredite, é muito provável que isso ocorra na jornada de cada um que tenha a ousadia de tentar, de se arriscar. Minha compreensão é: Importante não é nem tanto aonde você quer chegar….. mas sim, se sentir grato pelo fato de estar caminhando.  A felicidade, o “paraíso”, não é um lugar geográfico que se possa alcançar. Tem mais a ver com seu próprio estado de espírito. Meu conselho?  Delete de sua vida tudo o que não te serve. Acredite em suas verdades e lute por elas. Não deixe ninguém lhe dizer o que você é ou não capaz  de criar, sentir ou ser. Tenha em mente a clareza do que você NÃO quer na sua vida. Isso já será metade do caminho para descobrir o que você verdadeiramente almeja. Uma vez que você tenha um objetivo claro do que você quer, qual o sonho que você deseja realizar, dedique todo o seu ser a isso.  Não importa o quanto você tropece. Levante-se.  Quanto maior for seu sonho, possivelmente maior serão as dificuldades.  Um bom velejador não se torna mestre com uma brisa fraca. As dificuldades virão. Os problemas serão grandes. As injustiças serão difíceis de aceitar. Mas TUDO é parte do aprendizado. Faça a sua parte da melhor maneira que lhe for possível. O restante vira da conspiração Divina.

Foto: Echa Wuisan
 

IBRASURF – Como você aprendeu a construir a estrutura do Surfing Village?

MR. POLO – Minha experiência como marceneiro era a de pintor de casas no Kauai, onde trabalhava ao lado de muitos carpinteiros. Ou seja, basicamente nenhuma. Sempre me admirou qualquer tipo de trabalho que se dedique a criar. Admirava ver os pedaços de madeiras se transformarem em moradias. Alguns “truques” de construção aprendi pela simples observação. Mas o fato de saber uma maneira mais eficiente de se retirar um prego torto de uma madeira, não lhe qualifica em nada na hora de construir o que quer que seja.  Resumindo, aprendi a construir enquanto construía. O projeto do bangalô foi criado aqui enquanto morava sozinho no barco, o design já estava pronto . As madeiras para construí-lo já estavam entregues. O terreno onde seria montado o primeiro bangalô já estava limpo e os alicerces montados. Mas eu estava sozinho. Glen, o australiano que veio comigo, a muito já havia partido . Meus planos eram de ficar surfando até a temporada de ondas terminar e aí sim, começar a construção sozinho. Sabia que seria muito difícil e levaria muito tempo. Mas estava disposto a tentar. Foi aí que a conspiração Divina se fez presente uma vez mais. Por um “acaso” do destino,  encontrei um amigo de nome Ravi, que acabou me apresentando ao Mario, um cara que eu nunca havia visto durante minha vida. Mario acabou se transformando num verdadeiro amigo, sócio e irmão. Mas ele, assim como eu,  nunca tinha construído uma mesa ou um banco sequer. Porém ele tinha a força, a inteligência , a vontade e principalmente a determinação de me ajudar a construir o SV. Começamos pelo banheiro. Deu certo. Partimos para o primeiro bangalô. Deu certo também. Mas a grana sempre foi curta e não podíamos dar o “up grade” necessário para receber um grupo grande de surfistas. Foi aí que entrou meu irmão, Fernando (Nardelli), que foi fundamental para o SV ser o que é hoje. Nardelli injetou uma grana da venda do apartamento que ele tinha em São Paulo, largou o trabalho de gerente geral  e se ajuntou a nós. O SV dava os primeiros passos para se tornar um negócio sério e profissional. Começamos a construir o restaurante de 3 andares… e os outros bangalôs aos longos dos anos. A estrutura de todo SV continua em pé e mesmo o terremoto que destruiu Padang e que foi sentido aqui nas ilhas, não causou dano algum nas estruturas que montamos. Estamos orgulhosos de ter realizado o desafio de construir, finalizar e constatar que a estrutura está firme e sólida.

Foto: Echa Wuisan
 

IBRASURF – Como foi a decisão de trocar sua vida num lugar agitado e capitalista como São Paulo para ir viver numa ilha? Como você teve coragem e atitude para mudar a vida de maneira tão radical?

MR. POLO – A decisão não foi assim tão simples. Não morei minha vida inteira na pauliceia e de um dia para outro decidi ir viver numa ilha no meio do oceano índico. Vivi de várias maneiras diferentes, fazendo todo tipo de trabalho em diversos lugares do planeta.  Foi um processo ao longo dos anos.  Uma coisa era certa para mim, a de que possuía plena consciência do que NÃO queria na minha vida. Uma delas era muito clara: Não suportaria (sobre)viver trabalhando 8 horas por dia, 5 dias por semana, dentro de um escritório com ar condicionado. Precisava ver o sol das manhãs, necessitava sentir a brisa dos ventos e o cheiro do mato.  Pegando onda eu viabilizava estar em contato com a Natureza. Não existia e ainda não existe nada mais significativo e gratificante pra mim. O surf me deu a oportunidade de expandir meus horizontes de maneira única. Me proporcionou viajar, conhecer povos e culturas, aprender línguas diferentes. O surf me ensinou basicamente tudo que há de mais importante pra mim. Surfar me transformou no que eu sou hoje. Mais do que manobrar em cima de uma prancha, o surf me ensinou a ser paciente, esperar, ser humilde, olhar além do horizonte.  O surf me mostrou na prática e não na teoria, que Deus existe! O surf se tornou minha religião e o mar minha igreja.  Morar numa ilha cercada de ondas, de praias, de animais, de coqueiros, poder acompanhar as marés, as fases da lua, as estações de chuvas, as diferentes direções dos ventos, os tamanhos das ondulações e as formações perfeitas das ondas, são só alguns exemplos de como podemos estar conectados diretamente com a criação Divina. E de que a Vida não é só nascer, crescer, assistir televisão, ir para escola, se formar , conseguir um trabalho, ganhar dinheiro, conhecer uma mulher, se casar, ter filhos e colocá-los no mundo para crescer assistindo tv e mandá-los a escola……  A Vida é muito maior que isso. Não ACREDITO mais em Deus.  Hoje eu SEI que ele existe.  Deus, seja qual for a concepção que as pessoas tem a Seu respeito e ao contrário do que alguns pregam, não criou o mundo em poucos dias e foi descansar no domingo. Deus continua a criar. Todos os dias, a todo o momento. Basta ter olhos para enxergar. Viver em uma ilha é apenas uma das maneiras que encontrei de estar mais perto das coisas que Ele criou. E se alguém quiser ter Deus mais presente em suas vidas, crie!  Crie seu caminho. Crie seus próprios sonhos. Crie seu destino. O meu, eu tento criar.  Ya’ahowu.

Foto: Echa Wuisan
 

IBRASURF – Vivemos numa sociedade capitalista onde o dinheiro e a preocupação com o sucesso financeiro é foco de 99% das pessoas. Como você lida com o dinheiro pensando no seu futuro? Sente medo de precisar de dinheiro quando ficar mais velho e não ter?

MR. POLO – O problema de uma sociedade capitalista, até onde entendo, é o “ISTA”. Qualquer sociedade, seja ela capitalISTA, socialISTA, anarquISTA, estará fadada a não solucionar os problemas de todos como indivíduos. Não creio que seja “errado” alguém querer viver a vida de maneira capitalista,  atrás de dinheiro, prazer,  prestígio, fama e poder. Cada um vive da maneira que lhe cabe. As pessoas tem o direito e liberdade de optar e decidir o que seja melhor para elas. O problema é que elas não sabem o que é melhor pra elas mesmas. Creio que os problemas, bem como suas soluções, são individuais.  Nenhuma sociedade, não incluo aqui as tribais, conseguiu resolver os problemas de todos. Somos seres complexos e de mentes diferentes. Pessoas necessitam de experiências diferentes. Sendo assim, não há como solucionar problemas individuais com soluções generalizadas . Imagine se todas as pessoas tivessem as mesmas necessidades que as minhas. Eu iria viver em completo desespero, pois seriam todos surfistas espalhados por todas as praias do planeta e o crowd seria insuportável.

As grandes metrópoles talvez sejam necessárias, pois assim podemos observar a diferença entre uma avenida entupida de carros e o som de suas buzinas estressadas, com a paz das montanhas repleta de arvores ao som dos pássaros cantando. O oposto necessita existir ou seríamos incapazes de analisar as diferenças. Se hoje me comunico daqui da Indonésia com você ai no Brasil, é porque existem pessoas trabalhando em escritórios desenvolvendo computadores. Se fossem todos moradores de uma ilha igual a mim, nem telefone existiria. Até onde minha compreensão alcança, vivemos num tempo em que as sociedades se tornaram tão complexas e interligadas que, só a ideia de tentar modificá-las, parece completamente absurda e impotente. A solução de qualquer problema é individual. Não acredito que qualquer tipo de governo trará a solução para todos os indivíduos. O dinheiro é o sangue das sociedades modernas. Também não vejo problema intrínseco no dinheiro em si. O problema é sempre o uso que fazemos do que quer que seja. Por exemplo: uma faca é apenas uma faca. O uso que faremos dela é o que dará sua significância. Na mão de um atordoado mental, a faca ira tirar a vida de alguém e afetara negativamente muitas pessoas. Mas essa mesma faca nas mãos de um médico, pode salvar muitas vidas afetando positivamente os indivíduos. Por isso, acredito que o dinheiro não é o problema. Como o utilizamos talvez seja.

Se sinto medo de precisar de dinheiro e não ter? Na realidade não. Vivi muitas vezes sem dinheiro nenhum e continuei vivo. As coisas mais importantes na vida não se compram com o dinheiro. Ele é necessário, claro. Mas não é o foco da MINHA vida. Se esse é o foco na vida dos outros, é problema, ou solução da vida dos outros e não da minha.

Quando ficar velho?  Quando eu tinha 7 anos de idade e me imaginava com 18….achava que já estaria velho. A velhice tem mais a ver com o que você pensa, do que dos números acumulados de aniversários durante a vida. A saúde não está diretamente ligada ao quanto de dinheiro você pode adquirir na vida. As pessoa ricas também adoecem e em última analise também morrem. Prefiro viver a minha vida no agora. Amanha não sei o que virá. Ou mesmo se estarei vivo. Tento viver a vida de maneira que, quando a minha hora chegar, poderei partir sem problemas, pois tudo que quis experimentar dela, eu consegui, ou pelo menos tentei. Somente a ideia de estar com um pé nas portas do além e não poder relaxar, por ter perdido tempo e não ter realizado aquilo que você queria na vida, deve ser terrível. Não me preocupo muito com o dinheiro, só procuro ser feliz e fazer o melhor, para assim reconhecer o valor das coisas, em vez de seu preço.

“Existem pessoas tão pobres nesse mundo que, a única coisa que elas possuem na vida, é o dinheiro.”

Foto: Echa Wuisan
 

Bate Bola:

Um lugar: Qualquer praia com ondas perfeitas e sem crowd.

Um Sonho: Morrer dormindo.

Melhor onda: Red Bluff no oeste australiano .

Uma frase: Procure sempre ver o lado positivo das situações e das pessoas.

Maior inspiração: Osho.

Uma mensagem: Viva a vida que você quer da maneira que desejar sem prejudicar os outros.

Por: Nayla Popic.
Fotos: Echa Wuisan.


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